Entenda o que é a tendinite no quadril, a dor persistente na lateral dos glúteos

POR RAFAEL FENATO - 8 MINUTOS DE LEITURA

A dor é, sem dúvida, sinal de que alguma coisa está errada, principalmente quando afeta partes importantes do corpo. A tendinite no quadril, por exemplo, é um alerta importante para a sobrecarga na região e necessidade de tratamento ágil. 

Também conhecida como tendinite glútea, trata-se de uma das principais causas de dor na lateral do quadril. Caso a condição não seja diagnosticada e tratada o quanto antes, pode ocasionar dores permanentes capazes de limitar a rotina normal. 

Por isso, vamos entender alguns conceitos relacionados à tendinite no quadril, quem tem maior predisposição e os tipos de tratamento mais adequados. 

O que é a tendinite no quadril?

Os tendões são as estruturas responsáveis por ligar os músculos aos ossos. Por isso, são de fundamental importância para a realização de movimentos, desde os mais básicos. 

Deste modo, a tendinopatia, ou tendinite, é a inflamação ou irritação no tendão. No caso específico da tendinite no quadril, a principal inflamação ocorre nos tendões dos músculos glúteos.

Diferença entre bursite e tendinite no quadril 

Existem diferentes motivos para começar a sentir dor no quadril, ou seja, a tendinite não é o único.

Uma das causas é, também, a bursite. Ambas afetam, em particular, pessoas que exercem esforço intenso no quadril  ou permanecem em uma mesma posição por muito tempo.  

Porém, a diferença entre elas está na região onde ocorrem. A bursite é a inflamação das bursas, bolsas com pequenas quantidades de líquido que ficam na lateral do quadril, principalmente para evitar o atrito entre os tendões e os ossos. Já a tendinite é a inflamação dos tendões. 

O que causa a tendinite? 

A princípio, o tendão é um tecido bastante específico, principalmente pela função de ligar e conduzir força do músculo ao osso. Por isso, normalmente resiste a sobrecargas por mais tempo. 

Entretanto, diante da carga excessiva, uma lesão ou um desequilíbrio muscular, pode haver a inflamação. Assim, é bem frequente em quem: 

  • Possui alterações de postura ou óssea em decorrência, por exemplo, de pernas de tamanhos diferentes, joelhos tortos, ausência de alongamento e desvios na coluna 
  • Tem fraqueza muscular, inclusive originada pela prática de exercícios físicos com desequilíbrio muscular
  • Apresenta falta de alongamento de musculaturas de pernas e coluna
  • Executa esforços repetitivos exigidos por determinadas atribuições no trabalho ou durante a atividades físicas, como corrida em superfície inclinada 
  • Pelve larga ou quadril proeminente 
  • Envelhecimento no tendão

De modo geral, a inflamação ocorre quando há sobrecarga além do limite nos músculos glúteos. O que consequentemente causa um desequilíbrio muscular. Pode haver o enfraquecimento ou até mesmo o rompimento dos tendões, como veremos adiante. 

Entenda como são os tendões do quadril

Para entender a tendinite no quadril, é interessante analisar o quadro do ponto de vista da anatomia desta região. Para começar, é uma área composta por ligamentos e músculos, além de abrigar a integração da cabeça do fêmur com a cavidade da bacia. É por isso que conseguimos caminhar. 

Em primeiro lugar, há três tendões principais no quadril, que integram os músculos glúteos. Estes tendões se dividem em máximo, médio e mínimo. São eles que podem inflamar e, assim, favorecer o surgimento de dor no quadril. 

Músculos do glúteo

Importante ressaltar que os músculos glúteos cumprem um papel importante na nossa sustentação e movimentação. Afinal, são os responsáveis pelo equilíbrio da coluna e bacia quando executamos tarefas simples, tais como ficar em pé, subir rampas ou escadas, além da abdução (abertura das pernas). 

Já reparou que, quando sobrecarregamos estes músculos, caminhamos mancando, como pinguins? Isso acontece quando rompemos ou enfraquecemos o tendão. Então, pendemos para o lado, no que é chamado marcha de Trendelenburg.

Quem pode ter tendinite?

Normalmente, a tendinite costuma afetar muito mais as mulheres do que os homens, sobretudo pela própria anatomia do quadril, mais especificamente, a pelve.

As mulheres apresentam uma estrutura óssea da pelve mais aberta, para fornecer espaço para o canal do parto. Como resultado, os tendões ficam mais lateralizados e se inflamam por se tensionarem mais que o normal. 

Para se ter uma ideia, uma em cada quatro mulheres com idade a partir de 50 anos apresenta sinais de tendinite glútea.

A tendinite do quadril também afeta pessoas que não apresentam a pelve mais larga. Nestes casos, normalmente percebemos outras condições, chamadas de fatores de risco. Que são condições que alteram a função normal dos tendões podendo causar lesão. Dentre elas, se destacam: 

  • Sobrepeso
  • Artrose
  • Menopausa
  • Atividades físicas com fortalecimento muscular exagerado ou desequilibrado
  • Falta de alongamentos

Principais sintomas da tendinite no quadril 

À primeira vista, os sintomas iniciais que podem indicar um quadro de tendinite no quadril são: 

  1. Dor na região lateral do quadril 
  2. Dor para se deitar de lado
  3. Dificuldade para descer e subir escadas ou rampas
  4. Sensibilidade aumentada à palpação na região lateral do quadril
  5. Desconforto por ficar na mesma posição por muito tempo, seja em pé ou sentado
  6. Dor ou sensação de mancar ao levantar da posição sentada

Como tratar a tendinite glútea?

Primeiramente, ao observar os sintomas acima, a pessoa deve imediatamente buscar orientações de um profissional da ortopedia. Afinal, um mesmo sintoma pode indicar diferentes condições.

Para exemplificar, quando há dor na virilha ou dificuldade para movimentar o quadril, existem altas chances de não se tratar de tendinite. Estes sinais são mais encontrados em lesões de dentro da articulação do quadril, como no caso de um desgaste.

Observando os sintomas descritos pelo paciente, o ortopedista realiza exames físico e de imagem, como raio-x, ultrassom e ressonância.

Tais exames também têm como finalidade avaliar alterações na cartilagem, formato da bacia e até descartar a possibilidade de tumores.   

Identificada a tendinite no quadril, é hora de tratar o problema. O primeiro passo é entender como funciona o músculo e, consequentemente, o tendão. A verdade é que a dor permanente se transforma em um ciclo, uma vez que o músculo reage se contraindo na tentativa de passar a dor. 

Entretanto, quando isto acontece, o tendão é ainda mais tensionado e, por sua vez, gera maior tensão nos músculos, e por aí vai. Ou seja, a dor só vai desaparecer quando não houver mais desequilíbrio nos tendões e músculos. É impossível tratar a tendinite sem tratar a musculatura ou os desequilíbrios ao redor da articulação.

Sendo assim, o primeiro passo é controlar a dor para que a musculatura seja alongada. Isto é muito bem feito por medicações de uso oral em associação com fisioterapia.

Caso a dor não ceda, podemos injetar medicações direto no local da inflamação ou fazer bloqueios ao redor do processo inflamatório. Neste caso, pode ser feita uma infiltração no quadril, de forma a aplicar diversas substâncias para obter o  resultado que não foi alcançado.

É importante você saber que existem diferentes tipos de infiltrações e diversos tipos de medicações. Cada infiltração deve ser escolhida de acordo com a individualidade de cada caso. 

Entre os medicamentos aplicados, estão corticoides, anti-inflamatórios, antioxidantes, ácido hialurônico, bloqueadores neurológicos, estimuladores do processo inflamatório e anestésicos. Este processo é todo acompanhado por alongamento e reabilitação, pois o controle da dor, mesmo por infiltração, não dura mais que 40 dias. E o grande benefício da infiltração não é curar a lesão, mas sim deixar a musculatura e o tendão preparados para o alongamento e fortalecimento.

Em suma, as principais formas de tratamento para a tendinite no quadril são: 

  1. Identificação de fatores que causam a inflamação do tendão (má-postura, exercício errado, falta de alongamento, bacia larga)
  2. Uso de medicação 
  3. Fisioterapia
  4. Aplicação de medicação por infiltração (em casos mais intensos) 
  5. Tratamento cirúrgico (em último caso)  

Como viver com tendinite no quadril 

Ninguém quer viver com dor para sempre, não é mesmo?

Por isso, após o diagnóstico e tratamento da tendinite no quadril, algumas medidas devem ser tomadas a fim de que a dor não retorne. Quem já teve tendinite, certamente tem um fator de predisposição que pode aparecer novamente. Por isto, cuide com os seguintes pontos: 

  • Realizar uma atividade física regular, principalmente que envolva alongamentos musculares, como pilates ou academia.
  • Retornar aos exercícios físicos apenas mediante a autorização do ortopedista e avaliação corporal, sempre dando tempo para a recuperação completa da lesão.
  • Evitar, no início, atividades físicas de maior intensidade.
  • Ao voltar para o trabalho, levantar-se a cada hora para movimentar o quadril, de forma a evitar ficar muito tempo na mesma posição.
  • Faça alongamentos para favorecer o comprimento dos músculos.
  • Após o tratamento, voltar gradativamente aos exercícios de impacto.

Conclusão

A tendinite no quadril é a inflamação dos tendões desta região, provocada pela sobrecarga excessiva. A condição é mais frequente em mulheres, porém, também tem outros fatores de risco, como pelve mais larga, artrose, obesidade e esforços repetitivos. 

Diante dos sintomas iniciais, como dor na lateral do quadril, o recomendado é buscar atendimento ortopédico, uma vez que apenas o profissional dará um diagnóstico mais preciso. A partir daí, é feito o tratamento baseado em medicamentos e fisioterapia para alongar e fortalecer a musculatura. 

Cuide da sua saúde. Afinal, você deve estar cheio de motivos para viver sem uma dor incômoda na lateral do quadril.

Dr. Rafael Fenato

Dr. Rafael Fenato

CRM 23.460 / RQE 962
Ortopedista

Médico especialista em ortopedia, cirurgia do quadril utilizando técnica minimamente invasiva e medicina do trabalho. Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dedicado a promover qualidade de vida, desenvolve pesquisa relacionada aos distúrbios do quadril e compartilha em seus canais orientações práticas para agregar conhecimento aos demais profissionais e melhorar a saúde das pessoas.

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