Quais os tipos de cirurgia de hemorroidas e quais médicos procurar?

POR ANDRÉ WESTPHALEN - 11 MINUTOS DE LEITURA

A cirurgia de hemorroidas assusta todos que sofrem com o problema. Mas, com a escolha do profissional e do método correto é possível livrar-se da doença e dos seus sintomas tão conhecidos e desconfortáveis: sangramento, coceira, nodulação incômoda, as vezes necessitando empurrar para dentro e desconforto na região anal. 

Então, se você não quer mais sofrer com isso ou deseja estar bem informado caso o problema apareça, neste texto vou falar sobre os principais procedimentos cirúrgicos para hemorróidas, os cuidados no pré e pós-operatório e outras informações importantes sobre a doença. Acompanhe!

O que são as hemorroidas?

As hemorroidas são as veias da região do ânus, que quando doentes, chamamos de Doença das Hemorroidas, se caracterizando por um aumento de volume na região anal, principalmente no momento de defecar, que pode se associar ao sangramento, coceira, desconforto ou dor.

Ocorre igualmente em homens e mulheres, em aproximadamente 5% das pessoas.

O que causa as hemorroidas?

Em boa parte dos casos, as hemorroidas podem estar relacionadas a diversos fatores e o principal deles é fazer muita força na hora de evacuar, mas também há outras situações que são consideradas de risco para o desenvolvimento da doença:

  • Sedentarismo
  • Obesidade
  • Gravidez
  • Prisão-de-ventre
  • Diarréia
  • Alimentação pobre em fibras
  • Idade avançada
  • Tempo prolongado de defecação ou esforço

Como as hemorróidas são classificadas?

As hemorroidas são classificadas em internas e externas, sendo que as externas ficam na região exterior do ânus e podem causar grande desconforto. São aquelas súbitas, com nodulação e dor. Já as internas ficam no interior do ânus e são classificadas em vários graus, de acordo com sua gravidade e sua protrusão pelo ânus.

  •  Grau 1: em seu estágio mais leve, a veia está um pouco inchada, mas permanece no interior do ânus.
  • Grau 2: neste  grau já há um maior desconforto, pois as hemorroidas saem do ânus durante a evacuação e volta sozinha depois.
  • Grau 3: além de sair do ânus durante o processo de evacuação, as hemorroidas não voltam sozinha ao seu lugar, sendo necessário introduzi-la com a mão.
  • Grau 4: em seu estágio mais avançado, a hemorroida pode sair pelo ânus trazendo consigo a parte final do intestino. Está sempre “para fora”. 
  • As hemorróidas externas trombosadas caracteristicamente causam dor e na maioria das vezes não necessitam de cirurgia. Devido a essa complicação é que as hemorroidas tem fama de causar dor. Em outros artigos vou abordar mais sobre isso.

Quais são os tratamentos para as hemorroidas?

O tratamento para hemorroidas pode ser clínico ou cirúrgico. Geralmente, quando o paciente procura ajuda no início do problema há mais chances de não precisar de cirurgia. 

Contudo, a recomendação é sempre procurar um especialista e jamais tentar resolver o problema de forma caseira. Pois, existem diversas receitas que são ensinadas na internet e que podem inclusive piorar os sintomas ou atrasar um diagnóstico, pois  nem tudo que doi ou sangra na região anal é causado por hemorroidas, outras doenças assim se manifestam, como fissuras anais, infecções ou mesmo tumores e cânceres. 

Então, marque uma consulta com um coloproctologista, o médico especialista nas doenças do intestino, reto e ânus,  para que ele avalie a situação e prescreva o tratamento mais adequado para o seu caso.

Tratamento clínico 

O tratamento clínico das hemorroidas envolve diversos procedimentos, como o uso de pomadas com características vasoconstritoras, analgésicas e anti-inflamatórias, para aliviar os sintomas assim como  mudanças na alimentação, como ingerir mais fibras, de 20 a 30 gramas por dia (verduras, frutas e legumes) nas refeições, além de tomar bastante água, aproximadamente 2 litros por dia. Realizar atividade física regular. Evitar períodos prolongados sentado no vaso, como por exemplo lendo este artigo no celular.

Mulher sentada no vaso mexendo no celular

Comidas condimentadas ou mesmo pimentas, popularmente culpadas por sintomas hemorroidários, não tiveram esse malefício comprovado. 

Mas, caso esses tratamentos não resolvam o problema ou as hemorroidas apareçam novamente depois de um tempo, será necessária a avaliação do especialista e provavelmente um procedimento mais invasivo ou mesmo cirúrgico.  

Uma opção de tratamento,  ainda ambulatorial, em consultório, e o mais adequado para as hemorroidas de primeiro e segundo grau, é a ligadura elástica de hemorroidas, procedimento com mínimo desconforto e bastante resolutivo.

Importante destacar que as hemorroidas são estruturas anatômicas, sendo o tratamento indicado para o controle dos sintomas. Se não tratada pode se manter igual por muito tempo ou aumentar, mas não causa ou vira um câncer, e raramente causa hemorragias ou complicações com risco de morte.

Tratamento cirúrgico

A cirurgia de hemorroidas é indicada para os casos mais avançados da doença, ou onde não houve melhora com tratamento não-cirúrgico, sendo o tratamento com maior possibilidade  de resolver os sintomas de forma definitiva, permitindo que o paciente tenha mais qualidade de vida.

Embora seja um procedimento que cause um certo receio, um bom especialista será capaz de definir o método certo para cada caso e ajudar a promover uma recuperação mais tranquila.

Quais os tipos de cirurgia de hemorroidas?

A cirurgia de hemorroidas conta com diversas técnicas e a escolha depende da característica de cada caso e de cada pessoa. Após a avaliação médica, o coloproctologista pode recomendar algumas das opções abaixo.

Hemorroidectomia

Esse é o procedimento mais comum, consolidado e de melhores resultados a longo prazo e consiste na remoção das hemorroidas por meio de um corte. É indicado para casos mais avançados como nas hemorroidas internas do grau 3 e 4 e nas hemorroidas com componente externo.

O grande receio é a dor pós-operatória, o que leva os pacientes a procurar procedimentos alternativos e às vezes ineficazes ou mesmo perigosos. A dor ocorre, em graus variados, mas pode ser minimizada por técnicas adequadas. 

Desarterilização Hemorroidária Transanal (Técnica por THD / Endopex) 

Na cirurgia de hemorroidas por THD, o médico utiliza um aparelho de ultrassom para identificar os vasos que irrigam o local. Na sequência, o especialista costura a artéria interrompendo a circulação de sangue. Esse procedimento faz com que as hemorroidas sequem e desapareçam enquanto os pontos são absorvidos. 

Os resultados são mais adequados para hemorroidas menores, de segundo e terceiro graus sem componente externo, sendo nesses casos mais efetivos que as ligaduras elásticas mas com mais dor pós-operatória e maiores custos. 

Pode também ser realizada sem auxílio de equipamento de ultrassom ou kits específicos, mantendo resultados e minimizando custos. 

É uma alternativa a hemorroidectomia convencional em hemorroidas menores, mas maior número de estudos são necessários para melhor avaliação de resultados a longo prazo. 

Técnica PPH ou Hemorroidopexia Mecânica

Para diminuir o desconforto, as hemorroidas são novamente fixadas em seu local de origem por meio de um grampeamento com grampos de titânio. Essa técnica dispensa o uso de suturas, mas necessita de um dispositivo específico, com o intuito que o paciente tenha menor dor no pós-operatório imediato.

É mais uma técnica alternativa à hemorroidectomia convencional com a esperança da resolução do problema,  sem dor no pós-operatório. Não está indicada em hemorróidas com componente externo e a necessidade do dispositivo grampeador aumenta os custos. 

Estudos de revisão mais recentes demonstraram que a técnica por grampeamento apresenta menos dor no pós-operatório precoce, mas com maior chance de retorno dos sintomas e pior qualidade de vida a longo prazo, quando comparada à hemorroidectomia convencional. 

Como escolher a técnica cirúrgica?

Se realmente for indicada a cirurgia, essa decisão deve ser compartilhada entre o paciente e seu coloproctologista, sendo optado pela técnica que melhor satisfaça as expectativas do doente. Fatores que influenciam seriam a resolução dos sintomas a longo prazo, tempo de afastamento do trabalho, dor pós-operatória, estética da região anal, frequencia de complicações. 

Qual é o especialista que faz a cirurgia de hemorroidas?

A cirurgia de hemorroidas pode ser realizada pelo coloproctologista. Esse profissional é especialista no tratamento das doenças na região do ânus, intestino delgado e grosso e reto.

Com esse especialista, você consegue tratar doenças como as hemorroidas, fissura anal, fístulas anais e problemas mais graves, como  câncer colorretal, a retocolite ulcerativa, o prolapso retal e a doença de Crohn.

Quando devo procurar o coloproctologista para tratar hemorroidas?

As hemorroidas podem se tornar mais incômodas com o passar do tempo. Então, quando perceber o seu surgimento e os sintomas não desaparecem em 48 horas e começarem a interferir nas tarefas cotidianas, é hora de marcar uma consulta.

Pacientes,  muitas vezes, começam a evitar situações de seu dia-a-dia, como fazer esforços, ir a academia, praticar esportes ou mesmo atividade sexual. Se os sintomas estão influenciando negativamente sua vida, é necessária a procura por consulta especializada, sendo que  na maioria das vezes, procedimentos cirúrgicos não serão necessários, havendo soluções mais simples, desde mudanças de hábitos de vida até a ligadura elástica. 

Qual o tipo de anestesia usada na cirurgia de hemorroidas?

O tipo de anestesia vai ser definido entre você, seu coloproctologista e seu anestesista, podendo ser realizada com anestesia raquidiana, anestesia geral, ou mesmo com sedação e anestesia local. Depende do caso e do paciente. 

Cuidados indispensáveis no pré e pós operatório

Para que a cirurgia de hemorroidas tenha um resultado satisfatório e diminua a possibilidade de complicações ou risco para o paciente, é importante seguir atentamente as recomendações do coloproctologista e do anestesiologista, tanto antes quanto após o procedimento.

Pré-operatório

A rotina pré-operatória para esse tipo de cirurgia vai variar de caso a caso. Mas, tudo começa com uma consulta com o especialista. Ele vai avaliar a gravidade da situação e determinar a melhor abordagem.

É possível que o coloproctologista, dependendo de sua idade e de possíveis doenças associadas,  peça uma bateria de exames pré-operatórios para verificar a sua saúde geral e suas condições para se submeter à cirurgia. Podemos citar os exames laboratoriais, ecocardiograma e eletrocardiograma. Possivelmente será solicitado exame de colonoscopia para exclusão de outras doenças que causem sintomas semelhantes, inclusive o câncer intestinal, dependendo de sua idade e dos sintomas associados. 

Também é importante fazer um jejum de 6 a 8 horas e, se possível, evacuar antes do procedimento. Líquidos como água e chá, na maioria das vezes são permitidos até 3 horas antes do procedimento. Contudo, é importante voltar a ressaltar que não há um padrão exato e cada paciente será tratado de forma particular.

Pós-operatório

Após o procedimento cirúrgico, o paciente pode ficar internado por até 2 dias e é normal que ele sinta dor no local, principalmente ao se sentar e evacuar. Na maioria dos casos tem alta no mesmo dia ou na manhã seguinte. Para aliviar os sintomas e garantir uma recuperação segura, é recomendável:

  • Fazer uma correta higienização do local usando água morna e sabão neutro
  • Usar uma almofada redonda com uma abertura no centro ao se sentar
  • Tomar analgésicos para evitar ou aliviar a dor
  • Fazer banhos de assento em água morna para aliviar os sintomas
  • Usar a pomada, que pode conter anestésicos, relaxantes da musculatura ou mesmo antibióticos, a critério de seu médico
  • Usar laxantes, se necessários, para tornar a evacuação mais fácil e menos dolorosa, mas sem causar diarréia

É possível que surjam pequenos sangramentos nos primeiros dias após a cirurgia e isso é considerado normal. Mas, se o volume aumentar, será necessário procurar o médico.

Qual o tempo de recuperação após uma cirurgia de hemorroidas?

A recuperação também vai depender do tipo de procedimento, da reação de cada um à cirurgia e da correta observação de todas as recomendações do coloproctologista. Mas, de maneira geral, o paciente leva de 1 semana a 1 mês para conseguir retornar à sua rotina.

Quais os riscos envolvidos em uma cirurgia de hemorroidas?

Por se tratar de um procedimento invasivo, a cirurgia de hemorroidas pode apresentar alguns riscos e complicações, que mesmo infrequentes  em sua maioria e de pouca gravidade, devem ser conhecidos pelo paciente antes de realizar o procedimento.

  • Sangramentos
  • Retenção de urina no pós-operatório imediato
  • Constipação e retenção fecal (Fecaloma)
  • Dor de cabeça após anestesia raquidiana
  • Dor pós-operatória precoce (o mais frequente)
  • Retardo de cicatrização com formação de uma fissura
  • Desenvolvimento de pele residual nas cicatrizes (plicomas) 
  • Trombose de vasos hemorroidários que sobram
  • Rompimento de músculos e incontinência fecal (bastante raro)

Dependendo da técnica escolhida, também há o risco de o problema retornar e ser necessário uma nova intervenção.

A cirurgia de hemorroidas tem uma recuperação muitas vezes dolorosa, mas após algum tempo o alívio dos sintomas é gratificante.

Cuidar da saúde de forma geral ajuda a diminuir as chances de desenvolver o problema.Por isso, prefira alimentos saudáveis e ricos em fibra, hidrate-se bem e lembre-se de que o sedentarismo é uma das causas da doença. Então mantenha-se em movimento, seja fazendo caminhadas, corridas, indo à academia ou se exercitando dentro de casa. Sempre com a orientação de um bom profissional.

Referências:

Rivadeneira, DE, Steele SR (2022) Surgical treatment of hemorrhoidal disease. In Chen W(Ed) , Uptodate. Acessado em 21/09/2022.

Bleday R, Breen E. (2022) Home and office treatment of symptomatic hemorrhoids. In Chen W(Ed), Uptodate. Acessado em 21/09/2022.

Sobrado CW. ABCD, arq. bras. cir. dig. 34 (01) 2021 - A new approach for hemorrhoid disease: selective dearterialization and mucopexy without dopple guidance

American Society of Colon and Rectal Surgeons (ASCRS): Clinical practice guidelines for the management of hemorrhoids (2018)

The American Society of Colon and Rectal Surgeons Clinical Practice Guidelines for the Management of Hemorrhoids

American College of Gastroenterology (ACG): Clinical guidelines for the management of benign anorectal disorders

ACG Clinical Guidelines: Management of Benign Anorectal Disorders (2021)

Dr. André Westphalen

Dr. André Westphalen

CRM 22127-PR / RQE 18797 / RQE 19439 / RQE 1502 / RQE 18798
Coloproctologista

Especialista em Cirurgia Geral, Endoscopia Digestiva, Coloproctologia. Coordenador do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral e Professor Assistente do Internato de Clínica Cirúrgica na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Presidente da Sociedade Paranaense de Coloproctologia 2021/2022 e Coordenador Regional do Grupo de Estudos de Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB) 2018/2022. Titular do Colégio Brasileiro dos Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED). Médico Coloproctologista e Cirurgião Geral da Gastrovel.

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