Conheça a paralisia de Bell e saiba tudo sobre essa doença

POR ADRIANA DORIGÃO - 9 MINUTOS DE LEITURA

A paralisia de Bell, ou paralisia facial periférica, é, como seu nome já diz, uma condição em que parte do rosto da pessoa acometida fica totalmente paralisada.

Esse distúrbio, que é benigno e relativamente comum, pode atingir pessoas de todas as idades e ter algumas origens diferentes.

Para se ter uma ideia, um levantamento feito em 2017 constatou que cerca de 80 mil pessoas são acometidas por algum tipo de paralisia facial todos os anos no Brasil.

E claro, a paralisia facial periférica é responsável por grande parte desses casos, sendo a causa de pânico de muitas pessoas que associam o problema a doenças mais graves, como AVC e câncer, por exemplo.

Porém, a paralisia de Bell nada tem a ver com essas condições mais graves. Inclusive, a paralisia de Bell pode até mesmo surgir do nada e desaparecer repentinamente, em alguns casos.

Mas e aí, você já ouviu falar dessa condição?

Este artigo foi criado para tirar todas as dúvidas dos leitores sobre a paralisia de Bell, indicando suas causas, sintomas, formas de tratamento e mais.

Aproveite a leitura!

Como se dá a paralisia de Bell e o que causa essa doença?

Como eu citei anteriormente, a paralisia de Bell é um dos mais comuns tipos de paralisia facial que existem.

O problema atinge o nervo facial, que é um dos 12 tipos de pares de nervos cranianos, que têm origem e ligação com o cérebro.

Esse tipo de paralisia acontece, na maioria das vezes, quando o nervo facial é infectado pelo vírus do herpes simples (Herpes Simplex Virus, HSV), causando inflamação e inchaço.

Uma vez inflamado e inchado, o nervo perde as suas funções, ficando um tanto quanto enrijecido dentro do crânio.

Para facilitar o seu entendimento, o vírus do herpes simples é o mesmo responsável pela herpes labial e a herpes genital, por exemplo.

A manifestação desse vírus no nervo facial acontece, basicamente, quando o sistema imunológico está enfraquecido, o que permite a sua proliferação.

Existem fatores de risco para essa doença?

Como eu citei no tópico anterior, a paralisia de Bell é geralmente causada pela manifestação do vírus do herpes simples.

Contudo, existem alguns outros fatores de risco que podem ocasioná-la:

  • Mudanças bruscas de temperatura que venham a afetar o nervo facial (que podem causar uma paralisia temporária)
  • Estresse prolongado
  • Fadiga extrema
  • Traumas na face
  • Predisposição genética
  • Diabetes
  • Inflamações no ouvido, como a otite média

Além disso, é correto afirmar que por ser a paralisia de Bell um problema que atinge a parte final do nervo facial, nada impede que a infecção por outros vírus e bactérias, e até tumores, possam causá-la.

Inclusive, alguns especialistas apontam que tumores benignos e inflamações nas glândulas parótidas podem causar esse tipo de paralisia.

Outros vírus, como o herpes zoster, citomegalovírus e Epstein-barr também podem ser os causadores, bem como bactérias, como as que causam a doença de Lyme.

Por fim, vale destacar que esse tipo de paralisia facial acomete principalmente pessoas acima dos 40 anos de idade, e também pode acometer mulheres durante o terceiro mês de gestação ou no período pós-parto.

Quais são os demais sintomas?

Os sintomas da paralisia de Bell são bastante visíveis e facilmente identificáveis:

  • Inchaço em um dos lados do rosto.
  • Aspecto de relaxamento que compreende apenas um dos lados do rosto.
  • Quando a pessoa acometida sorri, apenas um dos lados da sua boca manifesta a ação.
  • A saliva do indivíduo escorre pelo lado que está paralisado, por que a paralisia atinge também os lábios.
  • A pessoa apresenta dificuldades de fala.
  • O indivíduo não consegue fazer movimentos simples como franzir a testa, piscar os olhos e emitir assobios, por exemplo.

A pessoa que foi acometida pela paralisia de Bell pode também reclamar de dormência no lado do rosto atingido, dores de cabeça e/ou na orelha e perda da capacidade de sentir gosto.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da paralisia de Bell é feito por exclusão. Ou seja, se o paciente chega ao consultório de um neurologista ou otorrino apresentando os sintomas da doença, o médico irá considerar primeiro outras condições, como AVC e AIT (Ataque Isquêmico Transitório).

Porém, geralmente no exame físico inicial o médico já identifica traços que remetem à paralisia de Bell.

Essa investigação tem por base uma entrevista com o paciente, que deve relatar os sintomas, e a realização de exames específicos, como o eletroneuromiografia, que mede a atividade elétrica dos nervos da face.

Quais são os tratamentos disponíveis para tratar essa condição?

Não existe um tratamento padrão para a paralisia de Bell, até mesmo por causa das várias faixas etárias que podem ser acometidas pela doença.

Assim, o tratamento é baseado no manejo dos sintomas, bem como em terapias para redução de possíveis sequelas.

Basicamente, o especialista deve atacar o causador da paralisia, que como eu falei, geralmente é o vírus do herpes simples, para reduzir a sua ação sobre o nervo infectado.

Em paralelo, o tratamento para aliviar algumas complicações, como o ressecamento dos olhos e a dor causada pela paralisia facial, deve ser administrado.

Inclusive, é necessário dar atenção especial ao olho do lado paralisado do indivíduo acometido, mantendo a sua lubrificação, já que a pessoa perde a capacidade de abrir e fechar o olho.

Quais remédios podem ser úteis no tratamento de paralisia de Bell?

Os seguintes tipos de medicamentos podem ser usados para tratar a paralisia de Bell:

  • Colírios e pomadas oftalmológicas, que são usadas para manter a lubrificação dos olhos e evitar problemas oculares
  • Corticoides
  • Antivirais para combater o causador da infecção

Mas é claro que esses remédios devem ser utilizados somente com prescrição médica.

Fisioterapia para paralisia de Bell: entenda para quê serve

Em geral, é possível dizer que a paralisia de Bell é uma condição temporária e que pode ser solucionada de forma relativamente rápida.

Entretanto, se os sintomas não forem tratados com rapidez, a doença pode gerar sequelas incômodas na aparência da pessoa.

Para reduzir e até mesmo eliminar esse efeito, existe a possibilidade de incluir a fisioterapia para paralisia facial no tratamento para a paralisia de Bell.

Esse conjunto de técnicas visa não apenas devolver a condição natural do nervo facial, mas também evitar problemas advindos de uma possível atrofia nos músculos da face, que pode ser provocada pelo adoecimento do nervo.

Para que funcione corretamente, a fisioterapia para paralisia facial deve ser iniciada o quanto antes e guiada por um especialista.

As principais sequelas deixadas pela doença

Sem o tratamento correto, a paralisia de Bell pode deixar sequelas bastante desagradáveis:

  • Paralisia facial residual (paralisia persistente em algum lugar específico, como boca ou pálpebra, ocasionada por um dano permanente ao nervo facial)
  • Espasmos musculares involuntários
  • Sudorese gustatória (salivação em excesso)
  • Lágrimas de crocodilo (lacrimejamento involuntário e sem motivo aparente)
  • Cegueira parcial ou completa do olho que fica no lado acometido
  • Entre outros

Todas essas sequelas são decorrentes da perda de função do nervo facial. 

O tratamento correto, com a associação de terapia medicamentosa e fisioterapia, pode até mesmo eliminar as sequelas da paralisia de Bell.

Qual a diferença entre a paralisia de Bell e o AVC?

Ao se depararem com o rosto paralisado "do nada", as pessoas tendem a se desesperar, pensando que sofreram um AVC.

Isso acontece porque um dos sinais mais clássicos do AVC é justamente a paralisia facial.

Porém, como eu já falei antes, a paralisia de Bell não tem nada a ver com doenças graves, como o Acidente Vascular Cerebral.

Para ilustrar melhor as diferenças entre esse tipo de paralisia facial periférica e a paralisia facial causada por um AVC, eu preparei um informativo bem simples de entender.

A pessoa que sofreu uma paralisia de Bell apresenta:

  • Inchaço no lado da face paralisado
  • Dificuldade de falar
  • Incapacidade de fechar os olhos e franzir a testa
  • Salivação excessiva e incontida do lado que está paralisado
  • Ausência de movimentos de um lado da face
  • Relaxamento total do lado paralisado

Na paralisia de Bell toda a seção inferior do nervo facial fica comprometida, mas a parte interligada ao cérebro continua ativa.

Com isso, o nervo até recebe os impulsos nervosos do cérebro, mas não consegue executá-los por causa da infecção ou interrupção sofrida.

Por outro lado, a pessoa mantém a capacidade cognitiva, consegue andar normalmente e tem outros membros do lado paralisado funcionando corretamente.

A pessoa que sofreu um AVC apresenta:

  • Paralisia que afeta normalmente a parte de baixo da face. Ou seja, o indivíduo pode manter a capacidade de piscar o olho e franzir a testa
  • Dificuldade de falar
  • Dificuldade de formular pensamentos (falha cognitiva)
  • Sonolência
  • Dificuldade de andar
  • Paralisia de outros membros do lado afetado, como braço e perna
  • Entre outros

A paralisia facial ocorrida por causa de um AVC é apenas um dos sintomas de um evento ocorrido no cérebro da pessoa acometida, e que, por sua vez, atingiu o nervo facial.

Ou seja, o dano é bem mais amplo que apenas uma paralisia facial temporária, como a de Bell.

Dessa forma, fica mais simples entender as diferenças entre os tipos de paralisia que podem ocorrer.

Qual é a principal diferença entre a paralisia de Bell e outros tipos de paralisia facial?

A paralisia de Bell é um mal súbito. Ou seja, a pessoa pode dormir com o rosto "normal" e acordar no dia seguinte com parte do rosto paralisado.

Em contrapartida, outros tipos de paralisia facial, como a provocada por tumores e problemas nas glândulas parótidas, apresentam sinais com antecedência.

O indivíduo pode sentir dores, uma leve contratura, espasmos, dormência e outros sinais antes de ter o seu rosto paralisado.

Por esses e outros motivos, o diagnóstico correto é de suma importância para determinar a causa da paralisia facial apresentada.

É possível ter paralisia de Bell mais de uma vez ao longo da vida?

Reincidência da paralisia de Bell

A resposta é: sim, mas em uma pequena parcela dos casos, apenas.

Estima-se que a cada 10 casos de paralisia de Bell, apenas 1 ou 2 tenham reincidência.

Além disso, na maioria dos casos em que a doença volta, o motivo é uma reinfecção pelos mesmos agentes causadores ou causas parecidas.

No restante dos casos, a doença tende a desaparecer em no máximo 12 meses e muitas vezes até mesmo sem tratamento.

Todavia, é minha responsabilidade alertar para a importância do tratamento correto, que pode evitar sequelas.

Como evitar essa doença?

Em termos gerais, é possível dizer que não há muito o que se fazer para evitar a paralisia de Bell.

Os cuidados preventivos ficam para a observação dos fatores de risco que citei no início do texto.

Ademais, caso você passe por isso, busque imediatamente o atendimento no pronto socorro mais próximo da sua casa para que as primeiras intervenções sejam administradas.

Dra. Adriana Dorigão

Dra. Adriana Dorigão

Crefito 8/67793 F
Fisioterapeuta de Paralisia Facial

Fisioterapeuta desde 2003 e membro da Associação Brasileira de Fisioterapia Forense e do Comitê da ABNT - Comissão de Estudos Especiais em Ergonomia. Atua com a reabilitação de paralisia facial, drenagem e dor facial há 17 anos, estudando e entendendo a anatomia e a fisiologia da face de cada paciente para realizar o tratamento mais adequado e personalizado.

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