O prolapso retal não está entre os problemas mais comuns que atingem o sistema digestivo, mas sua ocorrência pode causar grandes desconfortos em crianças e adultos.

Esse tipo de prolapso pode ser confundido com hemorroidas, devido a alguns sintomas parecidos (ambos saem para fora), mas não se trata da mesma enfermidade.

Neste texto, vou explicar como diferenciar os dois problemas e quais as principais características do prolapso retal, incluindo suas causas, fatores de risco e melhores tratamentos.

Baseando-se na gravidade, esse problema é comumente enquadrado em dois tipos:

• Prolapso retal parcial: apenas o revestimento mucoso (a pele interna do intestino) do reto fica exposto, dificultando até mesmo a visualização do prolapso
• Prolapso retal completo: nesse caso, há um grande volume do reto exteriorizado, sendo possível observar todas as camadas dessa parte do trato digestivo.

• Sangramento pelo reto
• O ânus úmido, roupas íntimas úmidas, pela constante produção de muco daquela porção de intestino que não deveria estar para fora
• Eliminação involuntária de fezes
• Dor no abdômen
• Sensações de peso no ânus
• Sensação de que há uma massa no local
• Ao defecar, o paciente sente um incômodo como se ainda houvesse fezes para serem eliminadas
• Ardência e dificuldade para defecar

O prolapso retal não causa dor em grande parte dos casos. Mas, a dor pode surgir caso ocorra alguma complicação ou o problema se apresente de forma mais grave.

Quem pode desenvolver prolapso retal?

O prolapso retal pode ocorrer em pessoas de todas as idades e de ambos os sexos. Porém, existem momentos em que há maiores chances de o problema surgir. 

Em crianças de até três anos esse tipo de prolapso é relativamente comum, pois os músculos e os ligamentos da região ainda estão em desenvolvimento, o que os impede de fixar-se de maneira adequada na parede abdominal.

Nessas condições, quando a criança tem diarreias constantes ou faz muita força ao evacuar, há a possibilidade de uma parte do reto sair pelo orifício anal.

Adultos com mais de 40 anos também são mais suscetíveis ao prolapso retal, principalmente as mulheres. Pois, nessa fase da vida, ocorre uma perda natural da força muscular da região, que pode se somar a lesões ocasionadas por partos prévios e cirurgias na região.

O que causa o prolapso retal?

O prolapso retal pode surgir devido a diversos fatores:

• Força excessiva ao evacuar, que costuma ser uma das principais causas do problema
• Partos vaginais
• Múltiplos partos
• Prisão de ventre ou diarréia crônica
• Enfraquecimento da musculatura do local
• Demência
• Acidente Vascular Cerebral
• Malformação do intestino
• Perder muito peso em um curto espaço de tempo
• Infecção no trato intestinal causada pelo verme Trichuris trichiura
• Situações em que há alterações no trato intestinal, como aumento da próstata, parto, cirurgia e lesões
• Esclerose múltipla, fibrose cística e até má fixação do reto

Qual a diferença entre o prolapso retal e a hemorroida/prolapso de hemorroida?

Ambos os problemas possuem sintomas parecidos, como sangramentos e a exteriorização de alguma estrutura pelo ânus, o que pode fazer com que sejam confundidos.

Mas, a principal diferença é que o prolapso retal afeta toda a região do reto, sendo que no adulto, na maioria das vezes vai necessitar tratamento cirúrgico,  enquanto as hemorroidas são um inchaço e a protusão de veias no ânus, podendo causar desconforto e sangramento, e na maioria das vezes de tratamento não-cirúrgico

Além disso, o prolapso pode causar o descontrole na eliminação de fezes e gases, o que não ocorre na hemorroida.

Outra possível diferença é que o prolapso retal não causa dor em seus casos mais leves, enquanto a hemorroida, quando complicada com trombose,  costuma ser dolorosa mesmo antes que o problema se agrave.

Apesar de ser possível diferenciar as duas condições, o adequado é procurar ajuda de um coloproctologista quando identificar os sintomas. Pois, apenas um profissional treinado é capaz de fazer um diagnóstico preciso.  As crianças devem procurar um gastroenterologista pediátrico ou cirurgião pediátrico.

Prolapso retal é um problema grave?

Sim. A gravidade do problema está relacionada ao grande desconforto que causa e a possibilidade de desenvolvimento da incontinência fecal, em que o paciente não consegue controlar o fluxo de fezes.

Além disso, um prolapso retal não tratado pode causar a necrose da área do reto que foi exteriorizada.

Qual médico devo procurar para tratar o problema?

O especialista que pode diagnosticar e tratar o prolapso retal é o coloproctologista. Esse profissional atua em problemas relacionados aos intestinos, cólon, reto e ânus.

Como é feito o diagnóstico desse tipo de prolapso?

O primeiro passo para um tratamento adequado é marcar uma consulta com o coloproctologista.

O profissional vai fazer o diagnóstico por meio de um exame clínico. O local será examinado enquanto a pessoa estiver de pé ou agachada e fazendo força. O médico tocará o local para descobrir a extensão do problema.

Exames como a sigmoidoscopia, colonoscopia, manometria, eletromiografia, defecografia, defeco-ressonância magnética ou mesmo radiografias com enema de bário também são realizados, para comprovação da extensão do problema e para descartar outras doenças.

Frequentemente está associado a outras patologias do assoalho pélvico, como déficits de relaxamento ou prolapso de outros órgãos (bexiga, vagina, útero).

Como é o tratamento de prolapso retal em adultos?

O tratamento de prolapso retal pode ser feito analisando suas causas. Por exemplo, se o problema surge pelo esforço em evacuar, o médico pode recomendar que o paciente coma mais fibras e beba mais água para facilitar o processo. A compressão das nádegas também é indicada para ajudar o reto a voltar ao lugar.

Porém, quando o problema é reincidente, pode ser necessário fazer uma cirurgia. 

Existem vários tipos de cirurgias, algumas menos invasivas e realizadas por via perineal (por baixo), mas com maiores chances do problema retornar, como a Cirurgia de Delorme e Altmeier.

E os procedimentos realizados via abdominal, na maioria das vezes por videolaparoscopia, onde são realizadas fixações do reto em outras estruturas, para que ele não saia mais para fora.

Muitas vezes é de difícil correção, com importante possibilidade de recidiva. Somente o profissional especializado pode lhe indicar o procedimento mais adequado para o seu caso, e que possam tomar uma decisão compartilhada em relação a riscos e benefícios. 

Se não for corrigido, na melhor das hipóteses, mantém o desconforto com o abaulamento, as roupas íntimas continuamente úmidas pela secreção, levando muitas vezes o paciente a não ter mais convívio social. Em casos mais severos, pode levar a incontinência fecal ou a isquemia do reto prolapsado.

Em pacientes onde o risco de complicações seja muito elevado, pode-se optar em não realizar o tratamento invasivo, e optar por tratamentos de menor risco, como, por exemplo , a fisioterapia pélvica (biofeedback).   

Como é o tratamento de prolapso retal em crianças?

Em bebês e crianças o tratamento costuma ser mais simples, pois geralmente não há indicação cirúrgica.

O gastroenterologista pediátrico pode receitar um medicamento para tornar o processo de evacuação mais fácil. Também é recomendado prender as nádegas com uma cinta após a evacuação, facilitando o recuo do reto.

Em crianças, o problema se torna menos comum à medida que o paciente cresce e os músculos e ligamentos se desenvolvem completamente.

O prolapso retal pode assustar o paciente quando é descoberto, mas a doença não costuma causar sérias complicações. 

Quando identificar qualquer sintoma, procure ajuda médica imediatamente para receber o tratamento adequado e se recuperar o quanto antes.

Referências:
Overview of rectal procidentia (rectal prolapse) Madhulika G Varma, MDScott R Steele, MD, MBA, FACS, FASCRS. In uptodate. Literature review current through: Sep 2022. | Atualizado a última vez em Jul 12, 2022.