A cirurgia de catarata pode dar ao paciente a visão que ele nunca teve

POR CÉSAR BRESSANIM - 11 MINUTOS DE LEITURA

Apesar de relativamente comum e comprovadamente segura, a cirurgia de catarata ainda desperta dúvidas na mente de muitos pacientes.

E isso é perfeitamente compreensível, afinal, estamos falando de uma delicada cirurgia no olho para correção da visão.

De qualquer forma, por ser um conhecedor dos anseios dos pacientes, eu criei esse artigo para explicar melhor o que é e como se dá a cirurgia de catarata.

Nos tópicos a seguir você vai encontrar todas as informações que precisa sobre esse assunto. 

O que é a catarata?

A catarata é uma doença ocular caracterizada pela opacificação do cristalino, que é a "lente natural" dos nossos olhos. Com a catarata, a pessoa fica com a vista embaçada, como se tivesse uma névoa tapando a sua visão.

Além disso, a catarata é classificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a maior causa de cegueira reversível do mundo. Um estudo feito entre 2010 e 2019 pela revista Lancet, que é uma das publicações voltadas à saúde mais conceituadas do mundo, confirma o diagnóstico da OMS.

A catarata geralmente é causada pelo envelhecimento dos tecidos oculares, o que justifica a sua maior incidência em pessoas acima de 50 anos de idade. Contudo, ela também pode ser desencadeada por fatores genéticos, doenças crônicas e até traumas no olho.

Independente do tipo de catarata, o tratamento é cirúrgico, não havendo possibilidade de reverter o quadro com colírios ou terapias a laser.

Os tipos de catarata 

A catarata pode se apresentar nas seguintes modalidades:

  • Senil: é o tipo mais comum, que afeta idosos por causa do envelhecimento natural dos olhos. Pode se apresentar nas formas nuclear, cortical e subcapsular posterior.
  • Congênita: resultado de uma malformação do globo ocular, observada em recém-nascidos.
  • Traumática: como o seu nome já diz, é causada por pancadas no olho ou na cabeça, muito comuns em acidentes automobilísticos, jogos de futebol ou traumas direto na região dos olhos.
  • Secundária: é causada principalmente por doenças crônicas e uso indevido de alguns tipos de medicamentos.

Como é feita a cirurgia de catarata? 

Cirurgia de catarata para corrigir a visão do paciente

A cirurgia de catarata consiste na remoção do cristalino opaco e/ou danificado para a colocação de uma lente intraocular que devolve a visão ao paciente.

Esse procedimento deve ser realizado por um oftalmologista especializado e em um centro cirúrgico devidamente equipado.

Atualmente existem duas técnicas utilizadas em cirurgias de catarata: facoemulsificação (FACO) e extração extracapsular do cristalino (EECP).

Para entender melhor como é feita a cirurgia, vamos fazer algumas considerações.

Facoemulsificação (FACO) 

A facoemulsificação, chamada também de FACO, é a técnica mais utilizada nas cirurgias de catarata feitas atualmente.

Nesse procedimento, primeiramente o oftalmologista aplica um colírio anestésico no olho que será operado. Em seguida, uma micro incisão é feita na lateral do olho, onde o objetivo é alcançar o cristalino opacificado.

Depois, um aparelho chamado facoemulsificador é introduzido delicadamente no olho. Essa ferramenta funciona como uma espécie de micro aspirador.

Adiante na cirurgia, o oftalmologista literalmente aspira o cristalino danificado "limpando" assim o olho da pessoa.

Por fim, uma lente intraocular é colocada no olho do indivíduo para substituir o cristalino.

Com a utilização da técnica FACO não é obrigatório fazer nenhuma sutura, pois a cicatrização do olho é mais simples, mas isso ficará a critério do cirurgião.

Além disso, o procedimento costuma ser bastante rápido, durando entre 20 e 30 minutos, no máximo. 

Tipos de lentes intraoculares utilizadas no procedimento

As lentes intraoculares (LIOs) são utilizadas para substituir os cristalinos danificados.

Essas próteses são feitas com materiais flexíveis que se encaixam perfeitamente no olho e são responsáveis por devolver a visão a pessoas antes acometidas pela catarata.

Nos tópicos abaixo eu explico como funcionam os principais tipos de lentes intraoculares. Dê uma olhada!

Monofocais

As lentes intraoculares monofocais são o tipo mais utilizado como prótese para quem teve o cristalino removido.

Como o próprio nome já diz, monofocal, nos remete a “apenas um foco”, nesse caso, a lente poderá proporcionar uma boa visão para longe (o que é o mais comum) ou para perto. 

Em casos mais específicos, é possível que o cirurgião faça uma compensação, deixando um olho bom para longe e outro bom para perto.

Bifocais

Como o seu nome já diz, as lentes bifocais possuem a capacidade de ter um foco duplo. Nesse caso, quem as recebe passa a enxergar bem tanto de perto quanto de longe.

Esse tipo de lente não é tão comum quanto as monofocais e pode ser substituída pelas trifocais. Porém, também tem vários adeptos.

Trifocais e acomodativas

Diferentes das lentes monofocais, as trifocais e/ou acomodativas oferecem uma maior extensão de foco visual aos pacientes.

Com elas, o objetivo é que a pessoa se livre até mesmo de outros problemas como miopia e hipermetropia e presbiopia. Ou seja, o famoso “livre dos óculos”.

Tóricas

Por fim, as lentes tóricas podem possuir características monofocais ou trifocais, mas o principal diferencial da sua utilização é a correção do astigmatismo.

Esse tipo de lente corrige o erro de refração que causa a condição e, além da catarata, cura também o astigmatismo.

Cuidados pré-operatórios

O pré-operatório da cirurgia de catarata é personalizado, por assim dizer. Em outras palavras, cada paciente precisa seguir o  que o seu oftalmologista receitou com base no seu caso específico.

As recomendações que podem constar são as seguintes:

  • Não usar maquiagem em excesso nas horas que antecedem a cirurgia
  • Lavar o rosto corretamente na véspera e no dia da cirurgia
  • Tomar os devidos cuidados antes de ir para o bloco cirúrgico
  • Começar o jejum 8h antes do início do procedimento
  • Suspender o uso de medicamentos não indicados pelo oftalmologista
  • Aplicar colírios para preparar o olho, por assim dizer

Para demais recomendações, o paciente deve consultar o oftalmologista responsável pela cirurgia.

Cuidados pós-operatórios

Colocando colírio para o pós-operatório da cirurgia de catarata

No pós-operatório imediato da cirurgia de catarata, o paciente é encaminhado para uma sala de recuperação ou observação, que pode ser dentro do próprio centro cirúrgico, dependendo do estabelecimento onde está sendo operado.

Esse período de observação dura alguns minutos, o suficiente para que se recupere da sedação, faça um pequeno desjejum e esteja se sentindo bem. Feito isso, já pode retornar para sua residência. 

O tempo médio de permanência na instituição costuma ser de 2 horas, contando do momento em que se apresenta na recepção, até sua saída. Incluindo procedimentos administrativos e médicos.

Os retornos ao consultório costumam ocorrer no primeiro dia do pós-operatório, uma semana após e 30 após. Mas esse intervalo será repassado pelo médico de acordo com o tipo de cirurgia e da recuperação do paciente.

De toda forma, nas primeiras semanas do pós-cirúrgico, os especialistas recomendam alguns cuidados básicos, como:

  • Mínima exposição ao sol
  • Uso de óculos de sol e boné
  • Ter cuidado para não esfregar os olhos
  • Não praticar nenhum tipo de atividade física nos 30 dias subsequentes ao procedimento
  • Fazer a utilização dos colírios indicados pelo oftalmologista responsável
  • Ter cuidado com a posição de dormir
  • Proteger os olhos contra impactos
  • Evitar banhos de piscina e de mar

A cirurgia de catarata traz algum risco? 

Eu posso afirmar com segurança que os riscos da cirurgia de catarata são bem baixos.

Em geral, esses riscos se resumem a raros quadros de infecção e/ou inflamação, vistos em pacientes com alguma predisposição.

Entretanto, alguns estudos publicados pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos alarmaram a necessidade de se ter cuidados para evitar complicações em cirurgias de catarata.

Segundo o texto científico, a cicatrização ocorre de uma forma diferente nas crianças, o que aumenta o risco de infecções.

De toda forma, fazer um acompanhamento correto no pré e no pós-operatório da cirurgia de catarata diminui as chances de complicação, independente da idade do paciente.

Quais são os benefícios desse procedimento cirúrgico?

Como você pode imaginar, a cirurgia de catarata traz inúmeros benefícios, principalmente no que diz respeito à qualidade de vida do paciente.

Mas, para que você entenda de forma prática, eu criei uma lista que elenca os principais avanços decorridos da realização do procedimento. Confira:

  • Restabelecimento total da acuidade visual, salvo em casos que o paciente apresente alguma outra doença, além da catarata, como o glaucoma por exemplo.
  • Possibilidade de correção de outros problemas oculares, sobretudo astigmatismo, miopia e hipermetropia.
  • Aumento da autoestima e da autoconfiança.
  • Melhoria do equilíbrio motor.
  • Eliminação dos sintomas da catarata, como dor de cabeça, tontura e confusão mental.
  • Isenção do uso de óculos de grau, em alguns casos.

Esses são apenas os principais benefícios observados, dentre diversos outros relatados individualmente por pacientes que mudaram de vida após a cirurgia de catarata.

Dúvidas frequentes sobre a cirurgia de catarata

Como qualquer tipo de procedimento cirúrgico, a cirurgia para correção de catarata gera dúvidas em algumas pessoas, como eu já citei ao longo do texto.

Por isso eu decidi listar alguns dos mais frequentes questionamentos a respeito e respondê-los prontamente. Continue lendo com atenção!

Quanto tempo leva para voltar a enxergar depois da cirurgia de catarata?

Estima-se que o paciente volte a enxergar perfeitamente no mesmo dia da cirurgia, ou no máximo no dia seguinte.

Vale destacar que a função do olho em si não é afetada pela cirurgia. Com isso, o que o procedimento promove é o "desembaçamento" da visão, que se dá com a remoção do cristalino opacificado. 

Importante ressaltar que o resultado da visão (acuidade visual) está totalmente vinculado com o tipo de lente implantada no olho do paciente.
Tendo optado por uma monofocal com grau para longe, o paciente utilizará a correção para leitura ou para perto.

Com as lentes trifocais, o objetivo é a independência dos óculos em mais de 90% dos casos, assim podemos corrigir tanto a catarata, quanto a miopia, a hipermetropia, o astigmatismo e a presbiopia.

É preciso esperar a catarata ficar “madura” para operar?

Não. A catarata pode ser removida a qualquer momento, a critério do paciente e sob orientação do oftalmologista.

Antigamente era comum realizar a cirurgia de catarata quando a doença já estava bastante avançada, gerando restrições na mobilidade do paciente. Porém, isso não faz muito sentido, uma vez que o único tratamento para catarata é a cirurgia, ao seu primeiro sinal, já pode ser removida, dando lugar à uma lente nova. 

Dá para se livrar da cirurgia utilizando colírios?

Não, pelo menos ainda não. Como eu disse ao longo do texto, a catarata só pode ser curada através do procedimento cirúrgico.

No entanto, alguns estudos preliminares estão sendo feitos no sentido de estabelecer um colírio capaz de curar ou pelo menos retardar a degeneração do cristalino.

Posso fazer a cirurgia de catarata sem implantar uma lente?

Essa é uma pergunta bastante frequente, principalmente quando o paciente vai pagar pelo procedimento, já que cada lente tem um preço e em alguns casos, pode representar a maior parte do valor total. 

Não é possível corrigir a catarata sem o implante, já que o cristalino que é a lente natural do olho será removido. Ou seja, é como se uma pessoa com alto grau de miopia tentasse enxergar sem o uso de um óculos ou lente de contato.

Em casos muito específicos é possível que o procedimento seja feito em duas etapas, sendo a primeira para retirada do cristalino e a segunda para o implante da lente, isso pode ocorrer, por exemplo, em casos de catarata congênita ou traumática.

Preciso usar óculos depois da cirurgia de catarata?

Depende. Se além da catarata, o paciente tinha também astigmatismo, por exemplo, só vai parar de usar os óculos, optando por uma lente que corrige essa condição. 

A cirurgia de catarata é definitiva?

Sim, totalmente definitiva. Afinal, no procedimento, o causador da catarata, que é o cristalino opaco, é totalmente removido e substituído por uma lente artificial que não corre o risco de se degenerar como o componente natural.

A catarata pode voltar? 

Não, pois como citei acima, a cirurgia é totalmente definitiva. Se você escutar alguém dizendo que a catarata voltou, pode afirmar sem medo de errar que isso é impossível e sugerir que procure a equipe que operou. Em alguns casos, a lente implantada pode necessitar de uma “limpeza”.

Como é a vida depois da cirurgia de catarata?

Casal aproveitando a vida depois da cirurgia de catarata

A cirurgia de catarata traz literalmente uma mudança de vida. Os motivos dessa virada de página já são conhecidos e eu os comento aqui nesse artigo.

Essas pessoas têm a dignidade restaurada através de, principalmente, um aumento na autoconfiança e na autoestima.

Para ilustrar melhor esse fato, a Revista Médica de Minas Gerais promoveu um estudo que qualifica e quantifica os principais fatores que determinam a melhoria na qualidade de vida dos pacientes que tiveram o cristalino opaco substituído por uma lente intraocular.

Indo nesse sentido, a Scielo Brasil, em parceria com a Revista Brasileira de Oftalmologia, também publicou uma amostragem científica que compara o pré e pós-operatório de pacientes que passaram por essa cirurgia, mostrando uma melhora significativa na sua qualidade de vida.

Por tudo isso, a cirurgia de catarata pode ser vista como um instrumento de cuidado e esperança para os pacientes acometidos pela doença.

Dr. César Bressanim

Dr. César Bressanim

CRM 12295 / RQE 7398
Oftalmologia

Especialista em Oftalmologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Glaucoma, Segmento Anterior e Catarata. Fellow em Glaucoma pela Universidade de São Paulo (USP). Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa e Catarata. Membro da Sociedade Brasileira de Glaucoma. Professor de Oftalmologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Em atendimento na Oftalmoclínica Cascavel.

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