O que é diverticulite aguda e como tratar de forma eficaz?

POR ANDRÉ WESTPHALEN - 9 MINUTOS DE LEITURA

A diverticulite aguda não é uma doença tão conhecida pela maioria das pessoas. Mas, quando não identificada e tratada, pode evoluir para casos mais graves que necessitam até mesmo de cirurgia.

Neste texto, vou falar tudo sobre essa doença, incluindo sintomas, como identificá-la e formas de tratamento.

O que é diverticulite aguda?

A diverticulite aguda é uma inflamação dos divertículos, saliências (saculações) que podem se formar em várias partes do trato digestivo, mas são mais comumente encontradas no intestino grosso.

Nessas regiões, pequenas quantidades de fezes podem ficar retidas e, diante de condições favoráveis, colônias de bactérias se desenvolvem, gerando infecções e inflamações.

Para entender melhor o conceito dessa doença, é importante destacar que a presença de divertículos em si pode não apresentar riscos para as pessoas. Estimativas americanas encontraram a presença de divertículos em até 42% da população investigada com colonoscopia para prevenção de câncer colorretal. 

Os divertículos podem ser de dois tipos: hipotônico, que surge devido ao relaxamento da musculatura lisa do intestino. E hipertônico, que surge devido ao aumento anormal da tensão dos músculos da região.

Quando há um grande número de divertículos no intestino, a condição passa a se chamar diverticulose. Com o aumento dessas saliências, são maiores as chances de a pessoa desenvolver um quadro de diverticulite aguda.

Quais são os sintomas e diferenças da diverticulite e da diverticulose

A diverticulose costuma ser assintomática e é geralmente descoberta durante investigações eventuais, por exemplo,  durante uma colonoscopia de prevenção. Nessa fase, quando há sintomas, podemos destacar:

  • Leve desconforto abdominal, geralmente do lado esquerdo
  • Prisão de ventre
  • Alterações na rotina intestinal

Somente 4% dos pacientes que têm a presença de divertículos em seu intestino grosso, irão desenvolver a diverticulite aguda. Portanto, na grande maioria das vezes, a presença dos divertículos não causará complicações. 

Quando a condição evolui para uma diverticulite aguda, podemos citar alguns sintomas mais específicos:

  • Dores abdominais, principalmente na parte inferior esquerda do abdômen
  • Pode ocorrer também dor na parte inferior direita do abdômen ou abaixo do umbigo
  • A dor costuma ser constante 
  • Metade dos pacientes já apresentou a mesma dor antes
  • Prisão de ventre
  • Diarréia
  • Febre baixa
  • Ardência para urinar e urgência urinária 
  • Náuseas e vômitos

O que causa diverticulite aguda?

A inflamação em si é causada  pelo acúmulo de fezes nos divertículos, associada à presença de bactérias em condições favoráveis, levando a erosões e microperfurações. 

Porém, sabemos que o primeiro passo para o desenvolvimento da condição é o surgimento dos próprios divertículos. Essas saliências estão associadas às seguintes situações:

  • Envelhecimento: segundo pesquisas, a diverticulose em pessoas com menos de 30 anos atinge menos de 2% da população, mas o número sobe para 40% em indivíduos com mais de 60 anos.
  • Baixo consumo de fibras: isso faz com que a doença esteja comumente associada a regiões muito industrializadas, em que a dieta não é adequada. Quando há ausência da substância no organismo, as fezes ficam mais secas, o que prejudica sua liberação natural pelo intestino.
  • Consumo elevado de carnes vermelhas
  • Obesidade
  • Tabagismo
  • Ausência de atividade física intensa
  • Aumento de pressão no interior do cólon
  • Fatores genéticos também estão entre as causas

A ingestão de sementes, assim como castanhas, amendoim e pipocas NÃO aumenta o risco de desenvolver divertículos ou de apresentar uma diverticulite aguda.  

Quem tem maiores chances de ter a doença?

Os estudos mostram que as chances de sofrer de diverticulite aguda aumentam com a idade, em pessoas obesas, sedentárias, tabagistas, com baixa ingesta de fibras e alta ingestão de carnes vermelhas processadas.  Não há qualquer distinção de gênero, e a incidência costuma ser proporcional entre homens e mulheres.

Os dados indicam que os divertículos são comuns e estão presentes em 10% da população de meia idade. Mas, os números sobem para 50 a 80% em adultos com mais de 80 anos.

Pode ocorrer também em pessoas mais jovens, sendo que 16% dos internamentos por diverticulite apresentam menos de 45 anos de idade. 

Como é feito o diagnóstico da diverticulite aguda?

Mulher diagnosticando a diverticulite aguda

Após o paciente sinalizar para seu médico a presença de alguns sintomas, são realizados exames físicos e o profissional deve se atentar a possíveis complicações da doença e eliminar outras patologias associadas aos sintomas, como:

  • Gastroenterite
  • Apendicite aguda
  • Doença inflamatória intestinal
  • Doença inflamatória pélvica
  • Câncer perfurante do cólon 
  • Nefrolitíase

Se não for possível identificar a diverticulite aguda dessa forma, a investigação segue com hemograma completo e exame de urina. 

Dentre os exames de imagens que podem ser utilizados, destaca-se a tomografia computadorizada. A tomografia é o exame de eleição para o diagnóstico da diverticulite aguda.

Já a colonoscopia não deve ser realizada nos casos de diverticulite aguda, sendo reservado seu uso após a melhora do quadro agudo, aproximadamente 60 dias após o episódio. 

A colonoscopia serve para fazer o diagnóstico da diverticulose e para excluir outras doenças, e não deve ser utilizada no episódio de inflamação. 

Quais profissionais tratam a diverticulite aguda?

Tanto o diagnóstico quanto o tratamento da diverticulite envolvem uma equipe interdisciplinar, da qual podem participar o coloproctologista, cirurgião do aparelho digestivo, cirurgião geral e  gastroenterologista.

Quais os tratamentos mais eficazes para diverticulite aguda?

Os tratamentos da diverticulite aguda podem variar de acordo com a gravidade da doença. Mas, de maneira geral, o coloproctologista pode sugerir uma ou mais abordagens da lista a seguir:

  • Uso de analgésicos e antibióticos associados a uma dieta leve e líquida. Esse tratamento é fortemente indicado nos casos mais simples e, em 80% das vezes, resulta na cura após 72 horas. Estudos atuais demonstram que os casos leves podem até mesmo ser tratados sem antibióticos, somente com analgesia e hidratação. 
  • Em alguns casos, principalmente quando não há resposta ao tratamento inicial, é possível realizar um procedimento de drenagem dos abscessos (coleções de pus) por meio de punção transcutânea. Mas, só é eficaz se as formações estiverem localizadas.
  • Nos casos mais graves, com infecção difusa no abdômen, o médico pode necessitar realizar em caráter de emergência a intervenção cirúrgica para a retirada da parte comprometida do intestino, e realização de colostomia (bolsa que desvia temporariamente o intestino para a parede do abdômen).

Após a recuperação do paciente, é importante tomar medidas para evitar novas ocorrências. Uma delas é adotar uma dieta rica em fibras, perder peso e realizar atividades físicas.

Como prevenir a diverticulite aguda?

Para evitar os incômodos e as possíveis complicações relacionadas à diverticulite aguda, as pessoas devem tomar algumas atitudes para prevenir a doença, como:

  • Aderir a um estilo de vida saudável reduz em 50% o risco de desenvolver a diverticulite aguda
  • Adotar uma alimentação mais saudável, rica em verduras, legumes e frutas e mastigar devagar
  • Beber aproximadamente 2 litros de água por dia
  • Manter-se com peso ideal, pois a obesidade é fator de risco
  • Realizar exercícios físicos regularmente
  • Não fumar

O uso de mesalazina, rifaximina ou probióticos não demonstrou capacidade de prevenção de novos episódios de diverticulite aguda. 

Porém, é importante ressaltar que apenas um médico pode diagnosticar e tratar a condição. Então, diante de qualquer problema, procure um especialista e jamais tome medidas para aliviar os sintomas por conta própria.

Tenho ou tive diverticulite aguda, o que pode me acontecer?

A maior parte dos pacientes com diverticulite aguda evolui sem complicações, somente com tratamento com antibióticos. 

Depois de um episódio, pelo menos 30% se mantém sem novos episódios durante sua vida. 

De 20 a 50% tem episódios de repetição. 

Quando há necessidade de cirurgia?

Situações de emergência, onde ocorre a perfuração do intestino com  vazamento de fezes e pus por todo abdômen. Nesses casos, a cirurgia não deve ser postergada, e na maioria das vezes será necessária a remoção daquele segmento intestinal e a criação temporária de uma bolsa de colostomia. 

Por outro lado, a maioria dos pacientes não vai necessitar de cirurgia, apenas 15% podem ter indicação de cirurgia durante sua evolução. 

Em casos não caracterizados como emergência, a cirurgia será indicada quando, após a diverticulite, se forma uma comunicação do intestino com outro órgão, fístulas para bexiga e útero, por exemplo, ou quando leva ao estreitamento e obstrução do intestino. 

Casos em que o paciente apresenta episódios de diverticulite de repetição ou após uma diverticulite complicada, podem ter indicação de cirurgia, devendo adequar a conduta ao paciente específico, seus riscos operatórios e riscos de complicações. Somente o médico especialista em conjunto com o paciente, pode decidir o melhor manejo.

Ter um episódio de diverticulite abaixo dos 50 anos, ou mesmo ter a imunidade diminuída, por si só, não deve ser motivo para indicações de cirurgia. 

Cuidados importantes sobre a doença e o tratamento

Procurar ajuda médica precoce e seguir o tratamento adequado, são alguns dos principais cuidados que a pessoa precisa ter em relação à diverticulite aguda.

Na maior parte  das vezes os sintomas são leves e o paciente se recupera sem grandes problemas, mas o atraso para iniciar o tratamento pode fazer a doença evoluir e causar condições mais graves como:

  • Pequenas perfurações no intestino que evoluem para a formação de bolsas de pus. Nos casos mais graves, causa infecção abdominal disseminada, conhecida como peritonite
  • Sangramentos identificados nas fezes
  • Formação de fístulas
  • Obstruções abdominais, impedindo a passagem de fezes e líquidos, o que causa dor, inchaço e vômitos.

A diverticulose é um achado que passa despercebido pela maioria dos pacientes e não causa grandes transtornos. Costuma-se chamar de “cabelo branco” do intestino, pois está relacionado com o envelhecimento e fragilidade do mesmo. 

Porém, quando evolui para a infecção chamada de diverticulite aguda, necessita de cuidados e todas as suas complicações podem ser evitadas ou tratadas com o acompanhamento correto, devolvendo ao paciente sua plena saúde.

Referências:
The American Society of Colon and Rectal Surgeons Clinical Practice Guidelines for the Treatment of Left-Sided Colonic Diverticulitis - Jason Hall, M.D., M.P.H., Karin Hardiman, M.D., Ph.D., Sang Lee, M.D., Amy Lightner, M.D., Luca Stocchi, M.D., Ian M. Paquette, M.D., Scott R. Steele, M.D., M.B.A., Daniel L. Feingold, M.D.

Colonic diverticulosis and diverticular disease: Epidemiology, risk factors, and pathogenesis - John H Pemberton, MD, Lawrence S Friedman, MD, Shilpa Grover, MD, MPH, AGAF. Literature review current through: Sep 2022. | This topic last updated: Apr 30, 2021.

Acute colonic diverticulitis: Medical management - John H Pemberton, MD, Martin Weiser, MD, Krishnan Raghavendran, MD, FACS, Wenliang Chen, MD, PhD. Literature review current through: Sep 2022. | This topic last updated: Mar 14, 2022.

Acute colonic diverticulitis: Surgical management - John H Pemberton, MD, Martin Weiser, MD, Wenliang Chen, MD, PhD. Literature review current through: Sep 2022. | This topic last updated: Mar 14, 2022.

Dr. André Westphalen

Dr. André Westphalen

CRM 22127-PR / RQE 18797 / RQE 19439 / RQE 1502 / RQE 18798
Coloproctologista

Especialista em Cirurgia Geral, Endoscopia Digestiva, Coloproctologia. Coordenador do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral e Professor Assistente do Internato de Clínica Cirúrgica na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Presidente da Sociedade Paranaense de Coloproctologia 2021/2022 e Coordenador Regional do Grupo de Estudos de Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIIB) 2018/2022. Titular do Colégio Brasileiro dos Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED). Médico Coloproctologista e Cirurgião Geral da Gastrovel.

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